PROGRAMA
Contextualização:
Nos últimos anos, estudos coloniais sobre o início do Império Português moderno têm buscado os tipos mais diversos de fontes documentais para investigar as trajetórias dos povos indígenas e negros, suas culturas, identidades, tradições e resistência (Mattoso, 1990; Sweet, 2011; Roller, 2014; Araujo, 2015; Xavier, 2016; Green, 2016; Candido, 2019). Nas fontes documentais originadas devido às redes intrínsecas à complexa administração colonial portuguesa, historiadores procuram entender como grupos subalternos atribuíam significado às suas escolhas, ações e interações com os diferentes atores descritos nesses documentos. A maioria dessas cartas - centenas de milhares - foi disponibilizada digitalmente pelo Projeto Resgate Barão do Rio Branco, sob a coordenação da Biblioteca Nacional do Brasil (Bertolleti, 2002).
Esses esforços acadêmicos têm exigido uma colaboração crescente entre pesquisadores de diferentes campos do conhecimento, em uma abordagem interdisciplinar. Esta oficina, portanto, busca fomentar o debate entre acadêmicos dos campos de história social e história global do início da era moderna, etno-história, humanidades digitais e ciência da computação, à luz da disponibilidade de material histórico tão rico ("Big Data") que permanece com seu potencial relativamente pouco explorado. Em particular, lidar com fontes históricas sob a perspectiva de redes de sociabilidade ainda é um desafio.
Além de fornecer uma introdução detalhada ao quadro e às dinâmicas da análise textual histórica, nossa oficina tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento de colaborações internacionais para abordar os padrões de agência dos povos indígenas e negros subalternizados - povos estes fundamentais para a estrutura social da América Portuguesa entre os séculos XVI e XIX.
Acreditamos que uma abordagem holística e interdisciplinar à grande variedade de registros disponibilizados, no âmbito das humanidades digitais, tem o potencial de abrir novas perspectivas sobre a dinâmica do tecido social colonial com base (1) em como esses grupos lutaram pela sobrevivência individual e coletiva em um mundo distintamente escravista e (2) na sociabilidade negra e indígena apesar de todo o aparato administrativo e legal que buscou objetificá-los e subordiná-los.
A oficina é baseada no projeto "MAPE: Mapping the Atlantic Portuguese Empire," uma colaboração iniciada por Agata BÅ‚och, Demival Vasques Filho e Michal Bojanowski. Os primeiros frutos deste projeto podem ser encontrados no artigo "Networks from archives: Reconstructing networks of official correspondence in the early modern Portuguese Empire" publicado na revista Social Networks (Bloch, Vasques Filho e Bojanowski, 2022), no capítulo "Slaves, Freedmen, Mulattos, Pardos, and Indigenous Peoples" da coletânea "The Digital Black Atlantic" (Bloch, Vasques Filho e Bojanowski, 2021) e no livro "Livres e Escravizados: As Vozes dos Subalternos na História do Império Colonial Português na perspectiva de redes" (Bloch, 2022). Com esta oficina, buscamos ampliar o time de colaboradores deste projeto, que hoje conta também com Clodomir Santana, Eduardo Sartoretto, Irene Vicente-Martin, João Carlos Nara Júnior e Márcia Amantino.
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Programação preliminar
Dia 01 (28/02/2024) - Abertura e Humanidades Digitais (parte da manhã na Biblioteca Nacional)
Abertura
09:30 - 09:45 Boas vindas da organização
09:45 - 10:00 Boas vindas do presidente da Fundação Biblioteca Nacional
10:00 - 11:00 Introdução à temática da oficina e ao Projeto Resgate​
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A Cartografia do Projeto Resgate (Coordenador do Projeto Resgate/FBN)
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Democratização e acesso: O Projeto Resgate (Coordenadora Geral de Processamento e Preservação/FBN)
Diversidade das vozes subalternizadas no Império Colonial português: pesquisas e documentações - Juciene Ricarte Cardoso Tarairiú (Universidade Federal de Campina Grande/CHAM, Universidade Nova de Lisboa)
11:00 - 11:20 Coffee Break
11:20 - 11:40 Introdução à temática da oficina e ao Projeto Resgate (continuação)
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A independência do Brasil na base do Projeto Resgate: uma experiência de análise textual histórica a partir das ferramentas digitais - Paulo de Assunção e Denise G. Porto (independentes)
11:40 - 12:30 Visita às coleções especiais e livros raros da Biblioteca Nacional
12:30 - 13:45 Almoço e traslado ao Centro Cultural da PGE
13:45 - 14:00 Boas vindas ao Centro Cultural da PGE
14:00 - 16:00 Apresentação de Projetos
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MAPE 1: Networks from Archives - Demival Vasques (Universidade de Luxemburgo)
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MAPE 2: Imperial Commoners - Agata Bloch, Clodomir Santana (Instituto de História Tadeusz Manteuffel - Academia Polonesa de Ciências)
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Brasilhis: Redes personales y circulácion en Brasil durante la Monarquía Hispánica, 1580-1640 - José Manuel Santos (Universidade de Salamanca)
15:40 - 16:00 Coffee Break
16:00 - 17:30 Painel 1: Aplicações da Ciência de Redes nas Humanidades Digitais
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Redes para Investigações Históricas: dois estudos de caso na História Medieval - Ana Bazzan (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
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Até onde a casa alcança? Redes compósitas e sociabilidades cruzadas no extremo sul da América Portuguesa - Israel Aquino Cabreira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
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Considerações sobre o epistolário medieval a partir dos Métodos Digitais e da História Global: uma visão a partir de Alcuíno (c. 790-804) - Renato Rodrigues da Silva (Universidade Federal Fluminense)
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Dia 02 (29/02/2024) - Democratização da Informação e Resgate Cultural
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09:30 - 11:00 Painel 2: Integração de Tecnologias na Modernização Institucional
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Os documentos das Intendências da Polícia no Rio de Janeiro e em Lisboa e as correspondências entre João VI e os governadores como sismógrafos do Império Português (1808–1822) - Debora Gerstenberger (Universidade de Colônia)
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Gestão FAIR de fontes primárias com Tropy: customização, portabilidade e escalas- Anita Lucchesi (Universidade of Luxembourg)
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Narrativas em Edição: Memória Virtual e História Pública na Wikipédia - Diogo Pereira da Silva (Universidade Salgado de Oliveira)
11:00 - 11:20 Coffee Break
11:20 - 12:40 Painel 3: Memórias Digitais e os Acervos Coloniais
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Conectar referências, preservar memórias: os catálogos digitais do Projeto Resgate Barão do Rio Branco - Fernando Berçot (Fundação Biblioteca Nacional)
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Acervos Digitais em Sociedades Escravistas: a perspectiva de estudo da família de escravizados na Paraíba do Norte, América Portuguesa, século XVIII - Maria da Vitória Barbosa Lima (Universidade Estadual do Piauí)
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A Companhia de Jesus na América portuguesa e os arquivos digitais - Marcia Amantino (Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Universidade Salgado de Oliveira)
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Cartografia histórica e história Indigena nas humanidades digitais: desafios e limites - Íris Kantor (Universidade de São Paulo)
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12:40 - 13:50 Almoço
13:50 - 14:40 Apresentação
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Democratização da Informação nos Acervos Públicos Brasileiros - João Carlos Nara Jr. (Assessor de Patrimônio Cultural do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ)
14:40 - 16:00 Painel 4 - Cultura e Conhecimento Digital: Explorando a Essência do Acesso à Informação
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Entre a interface de usuário e a produção do conhecimento histórico: Como a Hemeroteca Digital Brasileira atua na pesquisa histórica - Eric Brasil Nepomuceno (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira)
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A Gramática de Motivos para Aceitação de Pedidos de Acesso à Informação na CAPES: Uma Análise Quantitativa e Relacional dos textos - Luciano Rossoni (Universidade de Brasília)
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Linked Open Archives (LOA) - A digital hub to apply the new ontology RiC-O - Alison Carlos Filgueiras (Universidade Estadual de Goiás) e Jair Martins de Miranda (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
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16:00 - 17:00 Visita ao Teatro Municipal
Dia 03 (01/03/2024) - Vozes Marginalizadas em Arquivos
09:30 - 11:00 Painel 5: Narrativas Subalternas nos Arquivos Ibero-Americanos: Perspectivas Marginais e Globais
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Indios cosmopolitas, sirvientes trotamundos: Cómo se logró la movilidad indígena transatlántica, 1560-1600 - Adrian Masters (Universidade de Trier)
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As Mulheres no Império Português: uma perspectiva global entre a História do Direito e a História das Mulheres (Japão e Brasil, século XVI e XVII) - Luisa Stella de Oliveira Coutinho Silva (Instituto Max Planck de História e Teoria do DIreito)
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Forjando a liberdade fugas escravas em Bridgetown e no Rio de Janeiro, 1808-1821 - Fellipe Vasconcellos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
11:00 - 11:20 Coffee Break
11:20 - 12:40 Painel 6. Resgate e Representação: As vozes do Sertão
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Memorial Digital das Vítimas da Escravidão nos Sertões de Pernambuco (sécs. XVIII - XIX) - Alexandre Bittencourt (Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco)
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Sertão do Macacu: vozes subalternas na capitania do Rio de Janeiro (Século XVIII) - Vinicius Maia Cardoso (Universidade Salgado de Oliveira)
12:40 - 13:50 Almoço
13:50 - 15:00 Problematização e Colaboração Internacional
15:00 - 16:00 Palestra de Encerramento
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A documentação sobre línguas indígenas em arquivos brasileiros - José Ribamar Bessa Freire (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
16:00 - 16:10 Palavras Finais
16:10 - 18:00 Confraternização
Referências
Araujo, A.L. (ed). African heritage and memories of slavery in Brazil and the South Atlantic world. Cambria Press, 2015.
Bertolleti, Esther Caldas. (2022). Novas tecnologias facilitam a pesquisa histórica: a experiência do Projeto Resgate – “Barão do Rio Branco”. In: Fontes, Ano 1-No1.
Bloch, Agata. (2022). Livres e Escravizados: As Vozes dos Subalternos na História do Império Colonial Português na perspectiva de redes. Institute of Iberian and Ibero-American Studies, University of Warsaw.
Bloch, A., Vasques Filho, D., & Bojanowski, M. (2021). Slaves, Freedmen, Mulattos, Pardos, and Indigenous Peoples. The Digital Black Atlantic. Edited by Risam, R: & Josephs, K. B. University of Minnesota Press.
Bloch, A., Vasques Filho, D., & Bojanowski, M. (2022). Networks from archives: Reconstructing networks of official correspondence in the early modern Portuguese empire. Social Networks, 69, p. 123-135.
Candido, M.P.; Jones, Adam (ed.). African Women in the Atlantic World: property, vulnerability & mobility, 1660-1880. James Currey, 2019.
Green, T. “Beyond an imperial Atlantic: trajectories of Africans from Upper Guinea and West-Central Africa in the early Atlantic world”. Past & Present, 230.1. (2016): 91-122.
Mattoso, K. Ser escravo no Brasil (1990). Brasiliense.
Roller, Heather F. Amazonian routes: indigenous mobility and colonial communities in northern Brazil. Stanford U. Press, 2014.
Sweet, J. H. Domingos Álvares, African healing, and the intellectual history of the Atlantic World. Univ of North Carolina Press, 2011.
Xavier, A. Barreto, Silva, C. Nogueira da. O governo dos outros: poder e diferença no império português. ICS. Imprensa de Ciências Sociais, 2016.